NOTÍCIAS DE CLÍNICA & PESQUISA (APA, 2003): O MENTIR PATOLÓGICO SERIA ALGO A SER INCLUÍDO NO DSM? - por Ken Hausman - trad. Irma Ponti
Um psiquiatra forense falando sobre o caso do mentir patológico - algo há muito ignorado pelos pesquisadores psiquiátricos e clínicos - disse que isso pode, de fato, ser um distúrbio psiquiátrico distinto. O mentir patológico raramente aparece na tela de radar da psiquiátrica, permanecendo um conceito pobremente compreendido com ramificações sérias, particularmente para os psiquiatras forenses.
Charles Dike, M.D.: " É questionável se [o mentir patológico] é sempre um ato consciente". Dike, é um psiquiatra forense e professor de clínica psiquiátrica na Escola de Medicina da Universidade de Yale, afirma que psiquiatras precisam prestar a atenção ao que se chama do mentir patológico, a fim de estarem capacitados a informarem o sistema jurídico se os mentirosos patológicos devem ser responsabilizados por seus comportamentos. Acredita ele que já está na hora dos psiquiatras determinarem se o mentir patológico "representa somente um sintoma de um distúrbio psiquiátrico preexistente ou se é a uma entidade suficientemente coerente" para ser incluída como uma diagnose separada no DSM da APA (American Psychiatric Association).
Dike e seu colega Ezra Griffith, M.D, professor de psiquiatria e de Estudos Afro Americanos em Yale, dirigiram essas questões aos colegas no encontro anual da American Academy of Psychiatry and Law no mês de outubro passado (2002). Dike enfatizou que a escassez de referências na literatura e estudos sobre o mentir patológico - o que às vezes é referido como pseudologia fantástica - não deveria ser interpretada significando que os psiquiatras raramente encontram esse distúrbio em sua prática clínica. "Ao contrário, talvez seja porque os psiquiatras simplesmente sabem pouco sobre o assunto e têm dificuldades em reconhecer o problema", disse ele.
O definir desse conceito é um passo crucial em analisar o que é o mentir patológico do ponto de vista psiquiátrico, e Dike o descreveu como mentiras que são repetidas durante anos, para as quais uma razão externa não é facilmente discernivel. Essas mentiras são freqüentemente "tricotadas dentro das próprias narrativas complexas", ele falou. "No mentir patológico contar mentiras podem, freqüentemente, parecer um objetivo em si mesmo, e o mentiroso patológico pode tornar-se um prisioneiro de suas próprias mentiras com essa personalidade subjugando a verdadeira.
Sem planos, Impulsivo
Em contraste com outras formas de mentiras, a patológica aparenta ser não planejada e impulsiva, ele explicou. "é questionável se é sempre um ato consciente ou se o mentiroso patológico tem controle sobre suas mentiras. Se o fato dos mentirosos patológicos estarem cientes da falsidade incorporada em suas histórias teria implicações para a prática da psiquiatria forense - por exemplo, poderia ajudar a determinar como o sistema jurídico lidaria como os mentirosos patológicos que fornecem testemunho falso sob juramento. Poderia, também afetar determinações de competências."Numa audiência sobre competência a ser submetido a um processo judicial", Dike perguntou "poderia ser argumentado que as mentiras compulsivas, repetidas previnam o mentiroso patológico de ter assistência efetiva para seu caso?" Também notou que a concordância entre psiquiatras sobre os fatores que caracterizam a mentira patológica e o que a diferencia de outros comportamentos relacionados têm, também, implicações clínicas.
Dike disse que o mentir patológico pode, em geral, ser diferenciado de outras condições psiquiátricas com mentiras, incluindo "malingering", na qual a mentira brota de um "incentivo externo" identificável, em um esforço intencional de exagerar ou criar sintomas psicológicos. Pode, também, ser diferenciado da confabulação, "uma falsificação de memória ocorrendo em pleno estado de consciência em associação com amnésia organicamente derivada. O paciente tenta cobrir os hiatos da memória com materiais confabulados" , disse ele. Não há uma amnésia de base orgânica impulsionando o mentir patológico.
As crenças falsas da delusão originam-se de um distúrbio afetivo ou psiquiátrico e se mantêm "apesar de evidências indisputáveis ao contrário", afirmou Dike. Os mentirosos patológicos podem admitir a falsidade do que disseram quando confrontados e freqüentemente acabam mudando suas narrativas. O resultado disso é de que nem sempre é fácil distinguir uma mentira patológica de distúrbios delusionais. A mentira patológica pode ser diferenciada dos distúrbios factícios, pois "fazer o papel de doente" é claramente aqui o objetivo, mas o mentiroso patológico não quer esse rótulo", falou Dike.
Alguns poderiam confundir a personalidade narcísica com o mentir patológico, mas no narcísico "as mentiras são contadas principalmente para auto engrandecimento, o que sempre é óbvio ao ouvinte", continuou Dike. Uma área onde a diferença não é tão clara assim, é com a personalidades limítrofes (borderline). "Mentir patológico não é raro nos pacientes com distúrbio borderline de personalidade, na qual as características essenciais abriga falsificações." Distorções da realidade comuns a este tipo de distúrbio "contíguo à falta de controle de impulso e mecanismos de defesa como de recusa da realidade, idealização e desvalorização, formam terreno fértil para o mentir patológico". Apesar da relação deste com outras enfermidades psiquiátricas, a maioria dos exemplos do mentir patológico parece ocorrer na ausência de um distúrbio psiquiátrico diagnosticável, segundo Dike.
Se o mentir patológico é de fato um distúrbio psiquiátrico, Dike enfatizou que ao usar a definição proposta por ele e Griffith, os pesquisadores poderiam fazer uma coleta de dados de maneira sistemática "para determinar os sintomas que compõem o núcleo do distúrbio, os possíveis fatores etiológicos (psicológico, organico ou ambos), e o efeito no nível de funcionabilidade do indivíduo que sofre desse distúrbio. Uma vez que os dados forem coletados, os pesquisadores poderiam verificar se o mentir patológico existe transversando culturas, se os subtipos do distúrbio parecem existir, e mais importante ainda, se esses mentirosos patológicos "apresentam qualquer predominância suficiente, consistente e estável de sintomas ou grupo de sintomas que delineiem claramente uma entidade clínica que caiba dentro de uma classificação individual e para o DSM.
Fonte: http://www.polbr.med.br/ano05/lbp0805.php
Querem me ensinar, querem me julgar pelo que eu fiz.
Nenhum comentário:
Postar um comentário