quinta-feira, 6 de janeiro de 2011

Alphonse de Lamartine







__________ Alphonse de Lamartine __________


Em todos os seus sonhos mais belos o
homem nunca soube inventar coisa mais
bela do que a natureza.
















quarta-feira, 5 de janeiro de 2011

Fractais

















Música: negro Gato(Marisa Monte)

terça-feira, 4 de janeiro de 2011

Quebra cabeça digital



Observe a figura abaixo e monte o quebra cabeça:




Clique sobre os quadrados(sempre aos pares)
para organizar a figura



Encanto e Encantamento


(nome da imagem: encantamento de dralion)


O maior perigo na magia e na leveza é tentar sufocá-las através do uso da razão... para entender... nem amigos e nem inimigos precisam disso!

O mago-mor disse ao iniciado que a magia estava escondida dos olhos comuns num lugar onde eles não a encontrariam... no pátio mais interno

do castelo. Apontou, indicando o caminho, e alertou: mas cuide para não cair. O iniciado não comprendeu e não viu a magia... precisou retomar as liçõ

es. É assim que se dão as aprendizagens...



O mago-mor ficou satisfeito porque seu pupilo estava em silêncio: ele estava aprendendo que a magia não se pensa e não se fala... ela se faz e se dá através do encantamento.

Ou melhor: através de um encantamento... poção que fala ao coração!



Quando o discípulo finalmente aprendeu como é a magia e como se dá

o encantamento - e se transformou num mago - ele teve um longo acesso de

riso... e tanto se divertiu com a futilidade da sua busca

de entendimento, que soltou seu coração e foi embora. Não havia mais nada para ele no pátio mais interno do castelo: a magia estava dentro dele... no seu coração e nos seus olhos!!!



Nós usamos espadas para cortar

energias... e não... pessoas!

E... ainda assim, como um rito,

um símbolo!!!

(Aforismos da Iniciação)



Só é possível despertar

ou conseguir o encantamento

porque o amor... é livre

e nasce por si próprio.

Ele de nada depende

e não pode ser fabricado

nem induzido por rituais

e encantamentos.

Mas Mestre, espere.

Não será o amor algum

tipo de feitiço?

O amor não é um tipo

de encantamento?

- Oh sim.

O amor encanta por si só,

mas não depende de um ritual.

Ele se basta.

Assim como o encantamento,

que se sente por alguém,

ou por algo... também é

um tipo de amor.

Amor e encantamento andam juntos,

mas não estão associados à ilusão...

a não ser que haja rituais -

não especificados nos manuais -

feitos de forma sistemática

e inconsequente!

(risada)



O iniciado percebeu que era preciso

muita-coisa-e-quase-nada para

alcançar esse aprendizado, mas

se sentia sem paciência.

Sua pressa e sua angústia

- consequencias de ter a visão

aberta - atormentavam-no.

As injustiças que sofria

e testemunhava pareciam muito

maior do que as justiças que

conseguia promover com a verdade.

Não conseguia párar de pensar

na resposta enigmática dada

pelo mago-mor à sua pergunta.

Ele dissera que para desenvolver

a paciência.. era preciso acender

a luz e... ascender à luz!

O que ele não sabia

- amnésia causada pela aflição

EM resolver - era que a luz já

estava acesa e, nela,

ele estava ascendendo!

Ele sabia O QUE e PARA ONDE olhar!!!

E viu um mundo diferente!!!

Seu coração estava em paz

e sua mente estava tranquila.

Ele sabia que não era preciso

fazer tudo ao mesmo tempo

e "dar conta" de todos os

aprendizados simultaneamente.

Amanhã, como sempre acontece,

seria um novo dia e ele poderia

retomar tudo...

Pronunciou mentalmente para todos

os seres invisíveis e para o mestre...

aquela palavrinha milenar com sentido

tão atual: NAMASTE.



(nome da imagem: encantamento)


Fonte: http://psicologiaevidalivres.blogspot.com

Texto gentilmente cedido pelo autor e

amigo Cerriky- Cesar Ricardo Koefender




Cida Almeida- sobre a escrita( parte III)




Escrevo porque...


(Con)viver com palavras não é fácil, principalmente se a nossa necessidade de palavras for uma ânsia. Às vezes fica difícil saber se habitamos as palavras ou se são elas que nos habitam. Esse atrito cruel entre presença e fuga, controle e descontrole, compreensão e incompreensão. Mas o melhor de tudo é que, por mais que doa, e dói muito, a coisa toda é muito prazerosa. Penso que escrever é nos atrevermos, corajosamente, à arqueologia do espelho.

Hoje entendo claramente a razão da minha resistência à publicação, mesmo na Internet. Simplesmente medo, aversão às imperfeições do espelho, de confrontar com a lucidez cristalina da materialidade da palavra a obscuridade da intimidade mais funda aflorada na trama da nossa escrita, do nosso texto. Quando escrevemos nos tornamos um prato cheio para a voracidade do bom leitor, aquele que lê nas entrelinhas, nos silêncios, nos não-ditos, na intenção que se entortou no meio do caminho e contornou a pedra, a nossa fragilidade toda à flor da palavra que mais confirma quanto mais se nega...

Às vezes penso que foi bom eu ter feito um corte cirúrgico na minha escrita em favor da vida. Ao invés de escrever, decidi viver. Também deve haver em tudo isso uma pontinha de arrependimento de ter parado numa fase tão boa e produtiva. Por isso me chamou tanto a atenção o último livro do Moacyr Scliar (O Texto, Ou: A Vida), em que justamente refaz o caminho da sua escrita, esmiuçando o seu processo criativo. O cara só queria ser o melhor contador de estórias do Bom Fim. E uma vida por viver, entre as dores do corpo e as dores da alma, a escrita restauradora.

O texto ou a vida? A vida, sem dúvida. Mas a gente também descobre que a vida é a arte de melhorar o texto. É exatamente neste ponto em que me encontro. Tentando melhorar o texto da vida, sem aqueles hermetismos em que me negava tanto, em que criava espaços sagrados, em que as palavras eram muralhas, fortalezas para me guardar de mim, da vida, dos outros, sei lá de que monstros mais!

Então, esse meu reencontro com o gosto da palavra, com o gosto da existência também na força e beleza do verbo (que todos almejamos), vem com um sentido profundo de restauração de sentidos, mesmo na errância da travessia, com aquela necessidade de tocar o barro fundo da existência, mas sem grandes pretensões. Escrevo porque é um processo vital pra mim e porque me dá prazer.

E escrevo, sobretudo, para perder o medo, todos os medos. Escrevo para encontrar o outro do meu jeito mais quente. Escrevo para me expor e expor aquilo que é profunda e estranhamente desconhecido pra mim. Escrevo como quem crê em construções de pontes, ligando o que não se sabe a não sei quê... Mas construindo, por intuição e impulso...

Escrevo para tentar o mínimo de diálogo com o meu tempo, com a minha brevidade... Escrevo como quem racha lenha seca para atirar na fornalha onde arderá o próprio corpo...

Escrevo porque acredito que a alma é uma construção laboriosamente humana... Escrevo porque gosto da sensação do barro fresco entre os meus dedos... Escrevo para suavizar as dores que sinto... Escrevo porque não sei pintar, não levo o menor jeito para a música e porque me frustra profundamente a consciência de não saber esculpir... Minha ambição seria o dom de Camille Claudel, que tinha nas mãos o segredo das asas e a leveza amorosa do olhar de Deus na contemplação da criatura...

Escrevo para não endoidecer de tanto pensar. Definitivamente, não escrevo para ficar. Escrevo para repousar e sonhar com a mesma inspiração divina que levou o primeiro homem a rabiscar a pedra.

Escrevo numa ilusão de flor brotando na superfície da pedra, a inominável e a que é na dureza dos dias...

Escrevo para simplesmente ser.

Escrevo para esbarrar em Drummond, para ser cutucada desaforadamente por Mário de Andrade. E escrevo ainda para ranger meu humor desgostosamente satisfeito de seguir Bandeira.

Escrevo porque já tropecei demais. E descobri com Mário de Andrade que escrever é um soberbo tropeção!

Escrevo para embarcar clandestinamente com aquela preferência inarredável pelas portas secretas no transatlântico dos delírios opiáceos de Álvaro de Campos, conhecer por dentro a engrenagem e ser triturada pela grande máquina de fazer doido, e quem sabe visitar a aldeia de Alberto Caeiro e antes do fim da viagem escapulir ao ideário de arte de Ricardo Reis. E antes de abandonar o navio, que eu erre muito, já que sempre fui mesmo desorientada para espaços fechados, e bata atabalhoadamente na cabine atormentada de Bernardo Soares. E que prove o fel eterno do seu desassossego, uma gotinha que me estrague o mais leve contentamento e que eu siga contentemente descontente a escrever.

Escrevo por inveja boa de escalar a esculpida pedra dos grandes textos e vou cultivando em mim a delicada flor sintética das leituras, a que nunca murcha. Escrevo para ouvir a minha própria voz como uma condenação de Eco, a ninfa, no breu da caverna onde ainda rasteja a nossa precária humanidade.

Escrevo porque a vida é um acontecimento e fui alfabetizada com ouvido cativo de ouvir as estórias do meu pai. Escrevo para não perder o encanto da sua voz na minha alma. Escrevo para nunca esquecer a profundidade silenciosa do afeto da minha mãe.

Escrevo para repetir a gratuidade da infância, trocar brinquedos e pequenas maldades que não fazem mal a ninguém.

Escrevo para evaporar, para gastar o lápis, secar a tinta da caneta, ir até o fim do caderno e lá chegando colocar ponto final, mas por dentro mal contendo aquele desejo de cravar: e foram felizes para sempre.

Escrevo pensando que um dia ficarei esperta como Clarice que soube começar e terminar sua história, com uma primorosa lição: começou depois de algum inusitado começo não escrito com ponto e vírgula (;) e fez do fim um fim sem fim e a minha imaginação continua depois daqueles dois pontos (:), concretamente poéticos, uma carinha invertida zombando de mim.

Escrevo para desfiar um rosário de bobagens pensamenteadas. E porque acreditei na ternurinha angelical de Quintana sussurrando no meu ouvido que com minhas bobagens poderia fazer poesia.

Escrevo para ser instigada por quem desgoste do que escrevo e devolve o troco.

Escrevo para ter fé de que dias melhores virão...

Escrevo para ter vontade de atravessar a rua e caminhar anonimamente ao lado do rapaz que conta uma história que me interessa muito, como se fosse a coisa mais importante do mundo. Na confusão da cidade perdida os que conversam me ignoram e eu sigo a narrativa banal porque sou voyeuse de palavras.

Escrevo para habitar a tenda de Sherazade, para dominar a fúria de morte do sultão insano que mora comigo.

Escrevo para sonhar com o futuro. E porque Júlio Verne era mais esperto que os cientistas e sabia dar vida às coisas que aconteceriam no futuro do meu tempo, no prazeroso aqui e agora.

Escrevo porque a vida é um drama e eu preciso do sossego do cantinho espremido da página de um livro, mesmo que imaginário.

Escrevo porque qualquer página em branco, mesmo que seja a tela do computador, me dá uma fissura danada.

Escrevo porque tive medo de Freud. Fugi como o diabo dos divãs, mas inexplicavelmente me encantei com Jung e sigo o vagaroso carrossel do inconsciente coletivo. Desço e subo espirais da pedra e do sono, atravesso a seco o deserto de águas subterrâneas que nunca atinjo. E vou misteriosamente me recompondo nos fragmentos de textos, desentranhando as vozes do fundo do baú, as máscaras dos ermos-eus que tirei de tantos rostos e colei ao meu.

Escrevo porque Shakespeare e Machado já fizeram o universal. Esculpiram com palavras os grandes dilemas dos nossos ossos existenciais. Minguada e particularíssima, vou pela calçada na manhãzinha escassa do meu coração matutando minha escrita torta de pensamento torto na linha errada. Mas divinamente minha!

Escrevo porque gosto de Cecília, de Adélia, de Elisa, de Lygia, de Clarice, de Raquel, de Hilda, de Ana C., de Virgínia, das Emilys... E senti falta do poder da linha e da agulha naquelas lombadas douradas dos livros que vivem na minha biblioteca.

Escrevo porque em Platiplanto tenho lugar cativo na arquibancada da arena para o espetáculo dos cavalinhos de José J. Veiga. E foi tão bom chegar lá depois da estrada de tijolos amarelos e das maravilhas do mundo de Alice.

Escrevo porque achava lindo o texto do meu amigo Magno Medeiros e suas palavras me ensinaram a ouvir o camelo no infinito de música.

Escrevo porque um dia cavalguei com o enigmático dândi Hugo de Carvalho Ramos, que em tudo destoava do sertão, mas era um ser dos ermos e gerais nas trilhas batidas das tropas e boiadas que cruzavam o além Paranaíba. A mesma travessia do meu avô e de nossas almas. Escrevo porque Hugo continua pulando no meu peito com seus diabinhos ensandecidos para saber o nome dos meus bois.

Escrevo porque sou fã de Sherazade e a procuro em cada autor que leio.

Escrevo porque no meio do caminho havia um Rosa e uma travessia difícil para descobrir o sertão da minha alma.

Escrevo porque Riobaldo acordou em mim uma voz profunda, que veio do barro e aspira ao pó como destino, e me fez fechar, por vários anos, Grande Sertão: Veredas. Temi, depois daquela leitura, nunca mais escrever uma linha. Hoje, a janela é ampla e a cadeira predileta de Caeiro é o meu mais profano desejo na brisa da varanda de Riobaldo. Dias de Diadorim, sempre por perto, cego de amor e de ódio, um redemoinho na paisagem de dentro.

Escrevo porque tive um dia bom. Escrevo porque tive um dia ruim. Escrevo porque tive um dia mais ou menos. Escrevo pela força do hábito.

Escrevo essencialmente porque me dói escrever e também me dói não escrever. Escrevo descaradamente, sem inspiração, sem a menor crença na transpiração.

Escrevo para não me largar de mão. Escrevo para não deixar pra lá.

Escrevo porque o sexo é ruim. Escrevo porque o sexo é bom.

Escrevo porque você não me beija mais.

Escrevo porque você me trouxe flores.

Escrevo porque sou carente.

Escrevo porque sou osso duro de roer.

Escrevo porque gosto de seduzir.

Escrevo porque escuto mais do que devo e devo mais do que escrevo.

Escrevo porque alguém me liga e me desafia.

Escrevo com prazer redobrado porque já disseram que escrevo “bem demais para uma mulher”. Escrevo porque é melhor ouvir absurdos do que ser surda e poder revidar com o estilo da minha melhor escrita as bofetadas.

Escrevo porque não agüentava a pobreza de texto do meu primeiro namorado, que não sobreviveu ao primeiro texto, claro.

Escrevo porque vivi muitos amores platônicos. E todos tinham belíssimos textos.

Escrevo para tocar o mundo. Escrevo para futricar dores caladas. Escrevo para ouvir a voz dos calados.

Escrevo para transformar dor em flor.

Escrevo com a humildade da primeira vez em que peguei num lápis e rabisquei conscientemente a primeira letra.

Escrevo para rabiscar por cima, nunca apagar.

Escrevo para tentar me ver diferente.

Escrevo para que me vejam no traço comum das mulheres do mundo, de todas as mulheres do mundo.

Escrevo porque amei a voz de Jeanne Moreau. E desejei o meu melhor texto ganhando alma na interpretação dela.

Escrevo porque a escrita me liberta de mim.

Escrevo para perder a chave. E não quero encontrar nada.

Escrevo porque perdi muito tempo. Escrevo porque a eternidade pode estar ali depois da esquina. Escrevo porque não tenho certeza de nada. Escrevo porque não quero nada mesmo.

Escrevo pelo prazer de rabiscar. Escrevo porque amo encher gavetas e ver os papéis amarelecerem, porque adoro o amarelo das antiguidades, principalmente na superfície do papel.

Escrevo porque adorava receber cartas e mais ainda de respondê-las.

Escrevo porque o mundo é cheio de estímulos e eu sou um terminal nervoso.

Escrevo porque penso melhor escrevendo. Escrevo para ser prosaicamente um texto fácil.

Escrevo porque vivo melhor escrevendo. Escrevo sem nobreza de sentimentos. Jamais criaria uma teoria amorosa do texto, como fez Mário de Andrade. Nem penso na humanidade, muito menos no amor à humanidade. Às favas com as pretensões! Escrevo para manter a minha incoerência.

Escrevo para esquadrinhar o espelho, para quebrá-lo, triturá-lo em mil pedacinhos, e mesmo assim, me reconhecer inteira nas minúsculas partes.

Escrevo para amar melhor e me amar mais ao longo de um longo dia.

Escrevo para encontrar a sensualidade da noite e amanhecer o dia de bom humor.

Escrevo. Escrevo. Escrevo. Escavo. Escavo. Escavo. A pedra, a pedra, a pedra.

Escrevo porque a pedra existe, porque é impossível contorná-la e só consigo lidar com ela escrevendo.

Escrevo porque a pedra me habita e eu de tanto tremê-la não a temo mais.

Escrevo quase acreditando que posso transformar dor em flor.

Escrevo para ser varrida pelas palavras.

Escrevo para que tudo que vejo e sinto seja síntese da flor, a pétala e a dor.

Escrevo para que tudo que vejo e minto seja síntese da pedra, a pétala, a flor e a dor.

Escrevo na pedra e com a pedra.

Escrevo para a pedra, a minha antítese.

Escrevo e esqueço em igual medida, porque esqueço para escrever e escrevo para lembrar... A ciranda da pedra me devora.

É só o que sei. Escrevo!

Cida Almeida






: Sonho :



Clarice Lispector - sobre a escrita (parte II)





Meu Deus do céu, não tenho nada a dizer. O som de minha máquina é macio.

Que é que eu posso escrever? Como recomeçar a anotar frases? A palavra é o meu meio de comunicação. Eu só poderia amá-la. Eu jogo com elas como se lançam dados: acaso e fatalidade. A palavra é tão forte que atravessa a barreira do som. Cada palavra é uma idéia. Cada palavra materializa o espírito. Quanto mais palavras eu conheço, mais sou capaz de pensar o meu sentimento.

Devemos modelar nossas palavras até se tornarem o mais fino invólucro dos nossos pensamentos. Sempre achei que o traço de um escultor é identificável por um extrema simplicidade de linhas. Todas as palavras que digo - é por esconderem outras palavras.

Qual é mesmo a palavra secreta? Não sei é porque a ouso? Não sei porque não ouso dizê-la? Sinto que existe uma palavra, talvez unicamente uma, que não pode e não deve ser pronunciada. Parece-me que todo o resto não é proibido. Mas acontece que eu quero é exatamente me unir a essa palavra proibida. Ou será? Se eu encontrar essa palavra, só a direi em boca fechada, para mim mesma, senão corro o risco de virar alma perdida por toda a eternidade. Os que inventaram o Velho Testamento sabiam que existia uma fruta proibida. As palavras é que me impedem de dizer a verdade.

Simplesmente não há palavras.




O que não sei dizer é mais importante do que o que eu digo. Acho que o som da música é imprescindível para o ser humano e que o uso da palavra falada e escrita são como a música, duas coisas das mais altas que nos elevam do reino dos macacos, do reino animal, e mineral e vegetal também. Sim, mas é a sorte às vezes.

Sempre quis atingir através da palavra alguma coisa que fosse ao mesmo tempo sem moeda e que fosse e transmitisse tranqüilidade ou simplesmente a verdade mais profunda existente no ser humano e nas coisas. Cada vez mais eu escrevo com menos palavras. Meu livro melhor acontecerá quando eu de todo não escrever. Eu tenho uma falta de assunto essencial. Todo homem tem sina obscura de pensamento que pode ser o de um crepúsculo e pode ser uma aurora.

Simplesmente as palavras do homem.


(Texto extraído do site "Sobrado")


Clarice Lispector - sobre a escrita (parte I)







“Escrevo porque encontro nisso um prazer que não consigo traduzir. Não sou pretensiosa. Escrevo para mim, para que eu sinta a minha alma falando e cantando, às vezes chorando…”

“Escrever é procurar entender, é procurar reproduzir o irreproduzível, é sentir até o último fim o sentimento que permaneceria apenas vago e sufocador. Escrever é também abençoar uma vida que não foi abençoada”

“É preciso coragem. Uma coragem danada. Muita coragem é o que eu preciso. Sinto-me tão desamparada, preciso tanto de proteção…porque parece que sou portadora de uma coisa muito pesada. Sei lá porque escrevo! Que fatalidade é esta?”